O que é ser uma pessoa equilibrada?


 Photo by Bekir Dönmez on Unsplash 

“Imagine aquelas linhas horizontais de medir a pulsação do nosso coração nos aparelhos hospitalares. Quando estamos vivos, fisicamente saudáveis, elas estão em constantes altos e baixos. A partir do momento que essa linha está reta, não há mais vida.” A analogia é da psicanalista Adriana Marino, mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Ela começa dando uma dica não exatamente sobre o que é ser uma pessoa equilibrada emocionalmente, mas sim o que não é. Certamente, segundo esse exemplo, o equilíbrio não é estar sempre calmo, ou não ter oscilações de humor. O que seria então?

 Segundo a cartilha da Organização Mundial da Saúde, equilíbrio emocional seria um completo bem-estar físico, mental e social. Isso significa que não existe equilíbrio emocional sem ligação com a saúde física, assim como ela não existe plenamente sem a saúde mental. Mas aí caímos em outra pergunta. “O que que seria esse completo bem-estar? Quem, em algum momento da sua vida está em um completo bem-estar físico, mental e social? Aspirar a ausência de conflitos é primeiro ilusória e, segundo, não saudável”, questiona Adriana. 

Num dos episódios do seriado Lúcifer, o personagem – o diabo encarnado num corpo humano – pede a ajuda de sua terapeuta, Linda, para equilibrar as suas emoções, e ela responde que pode ajudá-lo a ter consciência sobre elas, mas não a controlá-las. Então esse equilíbrio não existe? Para especialistas do Hospital Albert Einstein, o equilíbrio viria de como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida, o modo como harmoniza suas ideias e emoções. O negócio então não é evitar que as emoções brotem, mas aprender a conviver com elas. “A ideia da ausência de conflito, de um pleno equilíbrio, ela só pode ser pensada como morte subjetiva. Faz parte da vida da nossa subjetividade uma instabilidade”, diz a psicanalista.

 Essa instabilidade, porém, tem um limite. Quando um determinado conflito ou desequilíbrio está prejudicando muito a nossa vida, atrapalhando a rotina e nosso cotidiano, aí sim precisamos olhar com mais atenção, com o maior cuidado e buscar alternativas para tentar sair dessa confusão. 

Como falamos no início do texto, nosso corpo dá diversos sinais que podemos identificar e só aparecem no âmbito dos conflitos. Entre eles, Adriana sinaliza os sonhos, que às vezes são mais sutis e difíceis de identificar, as espinhas, que podem indicar um estado de estresse e a cefaléia (dor de cabeça). Com atenção, você pode reconhecer quando não aguenta mais uma determinada dinâmica, e localizar esse sinal por meio das repetições (intencionalmente ou não) de atitudes. E por último, às vezes até um amigo ou familiar pode perceber essas alterações e dar um toque sobre você não estar bem. 

Já entendemos que o encontro desse equilíbrio é subjetivo, e muitas vezes passamos uma vida inteira em busca dele. Mas o que podemos fazer para amenizar o impacto negativo das emoções e dos nossos conflitos? São ações simples, mas podem fazer uma grande diferença. A primeira delas é encontrar algo que te dá prazer, como caminhar em espaços abertos, claro que com os devidos cuidados e protocolos de distanciamento. “A rua, praças e bosques são alternativas interessantes para que possamos experienciar a vida fora de um confinamento. É necessário, primeiro, cobrar do poder público que haja vacinação, condições sanitárias para que possamos estar fora de casa e, consequentemente, buscar coisas que você gosta”, acredita  especialista. A dança, a música, a atividade física e até a busca por psicoterapia ou análise são muito importantes para identificar certos conflitos e tratá-los. “O mais importante para ser gentil com as suas emoções é o contentamento. Eu não estou falando de felicidade, o contentamento é um pouco mais humilde, mais simples. A felicidade tem um conceito que remete às grandes correntes filosóficas, a ideia de plenitude, sem artifícios materiais. O contentamento é algo que dá para quantificar, um recorte possível, um espaço que tem condições e possibilidade de ser”, finaliza.

Editora: Carol Vasone 

Texto: Victoria Cezar

Site: Bonita de Pele

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